Hades ou Hás de
"Tu hades ir ali." ou "Tu hás de ir ali."?
"Hades" é o deus do mundo subterrâneo na mitologia grega (ou Plutão, na mitologia romana) e não uma forma verbal, portanto esta palavra não deve ser usada na frase acima.
"Hás de", a forma correta da segunda pessoa do singular do presente do indicativo do verbo haver, com a preposição de, é a forma correta a utilizar.
"Tu hás de ir ali."
Título 6
"Houveram pessoas" ou "houve pessoas"?
Emprego de "Houveram":
Quando o verbo "haver" for equivalente a "ter", "obter", "conseguir" ou "alcançar". Nesses casos, ele deixa de ser impessoal e deverá ser conjugado para que estabeleça concordância com o sujeito da frase.
ex.: Houveram de esperar um longo tempo para serem atendidos pelo médico. (sentido de "tiveram")
ex.: Os filhos houveram do pai tudo que quiseram. (sentido de obtiveram)
Emprego de "Houve":
a) No sentido de existir, acontecer, o verbo haver é sempre impessoal: não tem sujeito e, por isso, apenas se emprega na 3.ª pessoa do singular.
ex.: «Houve meninos que não estudaram» e não: «houveram meninos…»
VÍRGULA SIM OU VÍRGULA NÃO?
A vírgula é, e digo-o convictamente, o sinal de pontuação que mais dor de cabeça dá a quem escreve. Mesmo para quem tem boas competências de escrita, muitas vezes a hesitação surge: “Deve-se ou não colocar uma vírgula neste contexto?”
Há quem conheça as regras do uso da vírgula e as aplique bem, há quem as desconheça totalmente e ainda há quem ache que a vírgula de pouco ou nada serve. Será mesmo assim?
Convido-o a analisar comigo as frases seguintes, que diferem apenas na presença vs. ausência de vírgulas. Poderá comprovar que, de facto, uma vírgula pode alterar o significado de uma frase:
1 - O irmão da Ana que mora em Paris não vem ao casamento.
2 - O irmão da Ana, que mora em Paris, não vem ao casamento.
A frase (1) tem um significado diferente da frase (2), concorda? Siga, por favor, o meu raciocínio:
Na frase (1), a oração “que mora em Paris”, estando sem vírgulas, restringe o âmbito do nome irmão, ou seja, indica-nos que só o irmão da Ana que reside em Paris é que não vem ao casamento (dando-nos, assim, a ideia de que a Ana tem mais irmãos para além desse).
Na frase (2), a oração “que mora em Paris”, estando entre vírgulas, dá-nos uma informação acessória, pelo que a sua omissão não altera o sentido global da frase: o irmão da Ana não vem ao casamento (concluindo nós que ela só tem um irmão).
A presença vs. ausência de vírgulas determinou, efetivamente, uma mudança de significado nestas frases.
Feita uma reflexão sobre a importância da vírgula, vejamos, agora, em linhas gerais, os contextos obrigatórios e proibidos do uso da vírgula.
A vírgula marca uma pausa breve e deve ser usada nos principais casos que se seguem:
CASOS OBRIGATÓRIOS
1 . Usa-se para separar a saudação do vocativo: Boa tarde, Mafalda.
2. Usa-se para separar orações relativas explicativas: O Luís, que é o melhor aluno da turma, recebeu um prémio de mérito.
3. Usa-se para separar expressões adverbiais de tempo, de lugar, de modo, etc.: Na semana passada; em Coimbra; na sequência do seu contacto telefónico…
Em suma, a vírgula usa-se para separar elementos que não são essenciais na frase, isto é, que podem ser omitidos sem que a frase fique incompleta ou incorreta. Pelo contrário, todos os elementos que são fundamentais para a compreensão de uma frase nunca se separam por vírgula. Ora vejamos os principais casos:
Casos proibidos
1. Entre o sujeito e o predicado: A livrança proveniente do contrato de Leasing, foi anulada.
2. Entre o verbo e os seus complementos: O diretor informou os colaboradores, de que o horário das reuniões será alterado.
3. A separar uma oração relativa restritiva: Os atletas, que não passarem na fase eliminatória, não poderão participar na Final.
Termino com um desafio: por que razão a frase seguinte, sem quaisquer vírgulas, não está correta?
* Os linces que são mamíferos estão em vias de extinção.
Vista a bata de linguista e, com uma lupa, analise minuciosamente a frase acima. Tenho a certeza de que chegará a uma boa conclusão!
Sandra Duarte Tavares, Revista Visão
http://visao.sapo.pt/opiniao/bolsa-de-especialistas/2018-09-13-Virgula-sim-ou-virgula-nao-